Leia na íntegra: Chimbinha é capa da revista 'TRIP'...
À frente da banda Calypso, o guitarrista Chimbinha criou um gênero musical e um inovador modelo de negócios - sem precisar das gravadpras, da TV, dos críticos. Na maior crise da história da indústria fonográfica, vendeu 12 mihões de discos, tornou-se o artista mais popular do Brasil ao lado da mulher, Joelma, e virou caso de estudo para analistas da nova economia.
No aniversário de dez anos de sua banda, Chimbinha não fica parado e já pensa em reinventar mais uma vez o negócio da música Na infância, Chimbinha era um peixe. Nascido em Oeiras, interior do Pará, com o nome de Cledivan Almeida Farias, ele morava do lado de um rio e passava o dia na água, nadando perto de tambaquis, tucunarés, dourados, filhotes.
Adolescente, virou peixeiro. Foi morar em uma invasão da capital Belém com a família e trabalhar na feira com o pai. Já adulto, depois do sucesso à frente da Banda Calypso, tornou-segourmet de pescado. Em sua casa em Alphaville, prepara peixes para amigos como Zezé di Camargo, Leonardo e Bruno (da dupla com Marrone) –, que, como ele, estão entre os artistas mais populares do país. Ele pode discorrer longamente sobre os hábitos naturais e as virtudes culinárias de cada peixe – herança dos tempos de rio e de feira no Pará, não uma ostentação de novo rico.
O antropólogo Hermano Vianna enxerga na trajetória de Chimbinha “um símbolo incrível das mudanças pelas quais o Brasil está passando”. Mais até do que o torneiro mecânico que se tornou presidente. “A ascensão política de Lula é produto de alianças entre vários grupos sociais diferentes. Chimbinha se fez sozinho, sem gravadoras, sem televisão, sem elogios da crítica”, afirma.
No percurso, o guitarrista inventou um novo estilo musical, uma fusão de ritmos que ele batizou de calipso; e tornou-se um músico louvado por muitos colegas (leia depoimentos à pág. 7), mas ainda visto com preconceito por quem rotula de brega seu som e suas roupas. De quebra, Chimbinha criou um inovador modelo de negócios. Sem o apoio de gravadoras, deu CDs para as rádios de poste de Belém (que transmitem em alto-falantes nas ruas da cidade) tocarem suas músicas, enviou pelo correio discos para o Brasil todo, depois fechou acordo com uma distribuidora que os repassava diretamente a lojas e camelôs, vendeu milhares decópias em shows e supermercados. “A ideia não foi minha, foi ideia da necessidade”, resume Chimbinha.
Na pior crise da indústria fonográfica, a Banda Calypso vendeu ofi cialmente mais de 12 milhões de CDs e 3 milhões de DVDs, lotou estádios no Brasil todo, tornou-se o grupo mais popular do país segundo pesquisa Datafolha e foi citado no livro Free!, de Chris Anderson, editor da revista americana Wired,como exemplo de ponta da nova economia.
Ao completar neste ano uma década de Calypso e de casamento com a cantora Joelma, Chimbinha não dá pinta de descansar sobre os louros da glória. Além de um disco novo lançado em janeiro e de uma coletânea prevista para o fim do ano, ele planeja fazer turnê com os Paralamas do Sucesso (com quem tocou em um evento no ano passado), plantar um pé em Hollywood (a banda gravou uma versão em inglês do hit “Acelerou”, batizada de “Accelerate my heart”, para a trilha de um filme americano), lançar uma TV da banda na internet. E, sobretudo, ele quer reinventar o modelo de negócio da banda.
Uma possibilidade é distribuir CDs de graça para quem comprar um ingresso do show. Workaholic assumido, ele telefona diariamente a rádios de todo o Brasil para convencer os donos a tocar as novas músicas do Calypso, mesmo depois das toneladas de discos vendidos. Em meio às férias no mês passado, gravou três discos – um de sua banda, dois de amigos – varando as madrugadas. Foi em meio a seu atarefado retiro, em sua nova casa em Ananindeua, cidade colada a Belém, que Chimbinha recebeu aTrip para um almoço farto e uma conversa franca, um dia antes de seu aniversário de 35 anos.
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